
Acabei de ver, na RTP1 o primeiro episódio d’A GUERRA, documentário muito vivo sobre a guerra do… nosso Ultramar.
E penso como poderia ter sido tudo diferente: um novo horizonte poderia ter sido deixado para estas gerações actuais, de brancos e negros, que teriam nas províncias ultramarinas uma fonte inesgotável de riqueza bem-estar e desenvolvimento.
Infelizmente, tudo se perdeu: para brancos e negros. E, assim, o sacrifício de muitos foi em vão, inútil.
A população das antigas províncias ultramarinas, que na sua esmagadora maioria gostava de se abrigar à sombra da nossa bandeira, (exceptuando aquela “elite” que estudou em Portugal, e que até vivia na “Casa do Império”, aqui em Lisboa) vive hoje muito pior.
Todos ficámos mais pobres, nós e os nossos irmãos de África, os quais estão mergulhados na mais negra miséria, com as cidades (outrora tão belas) degradadas e com as infra-estruturas destruídas, imperando a mais dura corrupção a todos os níveis e em todos os estratos sociais.
Não existe prosperidade, saúde, habitação condigna. E, nos anos 70, em Moçambique por exemplo, o “PIB” atingia a cifra de 7%!!! Ora pense-se no Portugal de hoje, com um crescimento negativo!
Lembro que a nossa Administração Pública era a mais apurada de toda a África bem como tínhamos o melhor sistema de saúde, a par da África do Sul.
Mas tudo foi “dado” de modo inconsequente, em “partilhas” obscuras, em nome de ideologias que hoje (felizmente) estão mortas.
Entretanto, ficaram as populações entregues a si próprias, e o resultado está à vista: Angola e Moçambique com a economia destruída, o aparelho produtivo desmantelado.
Perdeu-se tudo o que de belo Portugal ali construiu. Nada sobra.
E nós por cá? Todos bem, como diria o cineasta Fernando Lopes...
Do debate de ontem, nos “Prós e Contras” da RTP1, constatei que para muitos militares existe a nostalgia daquelas paragens que também eram (histórica e constitucionalmente) território português.
Falou-se de guerra justa e injusta.
Já Francisco Suarez, no Séc. XVI, debatia o tema…
Mas para a grande maioria dos militares da época pouco ou nada diria essa classificação.
Todavia, partiram para terras de África, desde logo para defender brancos e negros de uma horda de bandoleiros que apenas semearam a morte e a destruição.
E partiram para defenderem uma visão da História e uma concepção de vida, na qual tinham acolhimento todas as raças, todas elas fazendo parte de uma grande Nação, como foi efectivamente Portugal.
Decorreram trinta e três anos após o golpe de 25 de Abril. E ainda não foi achada uma solução para oferecer uma vida condigna aos combatentes de ontem, hoje muitos deles feridos na alma e no corpo.
São os párias e deserdados do regime “democrático”.
Há trinta e três anos gritava-se “nem mais um soldado para as colónias” !
Hoje, não existem pruridos para enviar portugueses para zonas de grande complexidade político-militar e mesmo para zonas de guerra, sob a capa de "missões de paz" para defenderem interesses alheios ao nosso País e à nossa gente.
Mas hoje aqueles que antes vociferavam espasmodicamente, estão calados.
Irão assistir a esta série de episódios sobre a guerra do Ultramar, certamente refastelados num bom cadeirão de couro, copo de whiskie na mão, satisfeitos consigo próprios, pelo fim do sonho que ajudaram a destruir.
Na verdade, esses nunca construíram nada na vida. Apenas invejaram a Grandeza que nunca possuíram, o Idealismo que nunca sentiram, o Belo de que não são detentores nem nunca o serão.
Nota: a bela foto que aqui se coloca, com a devida vénia, é da autoria de Raul Lourenço, e publicada em "Olhares.com"