A vida é como um romance II
"No Verão, todos os dias me sentava na varanda a ver passar o tempo. E todos os dias o tempo passava. Todos os dias via passar o tempo e o tempo passava sem me ver. Era assim que eu passava o tempo. Depois, descobri que não via passar o tempo, era o tempo que passava por mim e que a vida era apenas um frágil passatempo. (...). Aprendi que não posso ficar na varanda a ver passar o tempo ou vendo o tempo passar por mim. Eu tenho de cavalgar a eternidade das milésimas de segundo e morrer não de desgaste mas na exaustão de uma vida vivida. Ficar na varanda é não tomar decisões. E não agir é uma perda de tempo. É esperar que esse mesmo tempo cumpra a profecia bíblica de nos fazer regressar ao pó. Cabe-nos não morrer em vida. Não morrer antes do corpo."
João Morgado, "Diário dos infiéis", Oficina do Livro, Junho de 2010. Com a devida vénia.
Etiquetas: O Caminho fica longe
2 Comments:
então e o que é feito do paraíso do Verão? O escutar do correr da àgua no remanso do verde?
Pois... parece-me que fugiu...
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