Dies Domini

Sartre escolheu o absurdo, o nada e eu escolhi o Mistério - Jean Guitton

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Localização: Lisboa, Reino Portugal Padroeira: Nª Srª Conceição, Portugal

Monárquico e Católico. intransigente defensor do papel interventor do Estado na sociedade. Adversário dos anticlericais saudosos da I República, e de "alternativos" defensores de teses “fracturantes”. Considera que é tempo, nesta terra de Santa Maria, de quebrar as amarras do ateísmo do positivismo e do cientismo substitutivo da Religião. Monárquico, pois não aliena a ninguém as suas convicções. Aliás, Portugal construiu a sua extraordinária História à sombra da Monarquia. Admira, sem complexos, a obra de fomento do Estado Novo. Lamenta a perda do Império, tal como ocorreu.

domingo, 8 de agosto de 2010

Da Guerra do Ultramar - "O Último Ano em Luanda".


O mês de Agosto serve, entre outras coisas, para tentar pôr a leitura (inclusive Direito...) em dia: missão impossível...

No verão passado li toda a obra publicada de Tiago Rebelo, à excepção do penúltimo livro dele ("O Último Ano em Luanda"), que estou a acabar, e o último - "O Homem que sonhava ser Hitler" - e que vai seguir-se...


Ler Tiago Rebelo é como abrir um jornal diário e sofrer a fundo com as notícias que ali estão perante os nossos olhos - experimentem mergulhar no seu "O Tempo dos Amores Perfeitos" e este "O Último Ano..." e verão...

Deste "O Último Ano em Luanda" tenho o livro todo rabiscado, sublinhado, enfim... e sofro e revolto-me com os traidores do MFA, e poltrões como Mário Soares e Almeida Santos, que venderam o nosso Império, a nossa Nação pluricontinental aos soviéticos, aos cubanos...


Respigo, com a devida vénia, o seguinte trecho, o qual reflecte a realidade histórica que tem sido sonegada ao povo português, o qual, de resto, tem andado a dormir nos últimos trinta e seis anos...


“O tenente Macário tornou a sentar-se à frente de Nuno e continuou a conversar enquanto se ouvia o som surdo do vácuo, das granadas a serem cuspidas dos tubos dos morteiros - tum.,_ tum... tum…seguido das explosões ao longe.

- Há quatro anos que aturo esta merda - disse o militar, deixando escapar um suspiro ruidoso. - Houve alturas em que mal conseguíamos respirar. Era um arraial de porrada todos os dias. Os turras não nos davam um minuto de descanso. Isto? - Esticou o dedo a apontar para onde caíam os morteiros. - Esta merda? Isto não é nada - varreu o ar com um gesto de desprezo. - Você havia de estar cá quando os cabrões nos atacavam, aqui há quatro anos. Isso é que era a sério. Eles atacavam-nos, nós íamos atrás deles, dávamos cabo dos gajos e, no dia seguinte, já estavam de volta a bater-nos à porta. Era uma loucura. Por mais que os enchêssemos de chumbo, os gajos não aprendiam, voltavam sempre, uma vez, outra vez, e outra, e outra, e outra... - Abanou a cabeça, como se ainda lhe custasse a crer. - Incrível! Estes pretos parecem os chinocas do Vietname. O que me lixa é que tivemos treze anos desta merda, treze anos a darmos o couro por esta terra, a passarmos as passas do Algarve, a morrermos ou a ficarmos estropiados. Porra! Você não imagina a quantidade de gajos que eu vi saírem daqui completamente passados dos cornos, não diziam coisa com coisa. E para quê? Diga-me. Porque carga de água é que andámos treze anos a lutar? A resposta é simples: porque já cá estamos há cinco séculos. Que diabo, cinco séculos não são cinco dias!
Nuno abanou a cabeça, concordante, cinco séculos não eram cinco dias, de todo. Ao lado, ouviam-se os morteiros a disparar, tum... tum... tum.., e, ao fundo, as explosões. O tenente prosseguiu na sua diatribe, sem se interessar pelo desenrolar do combate.
- O que eu quero dizer é que, se nós estamos em África há quinhentos anos, como é que os pretos nos vêm dizer que isto é tudo deles? E alguns deles só falam francês, os cabrões da FNLA só sabem falar francês! Estamos a brincar? Nós - bateu com a palma da mão no peito - também temos pretos. Olhe, aqui - apontou para o lado. - Temos pretos a dar com um pau, a lutarem ao nosso lado. E eu não trocava um deles por dez desses merdosos do MFA que fizeram a revolução e que querem entregar Angola ao inimigo. Então estivemos nós anos, séculos!, a conquistar esta terra, a construir cidades, a tirar os selvagens da ignorância, e, de repente, vêm-nos dizer que somos uns sacanas de uns exploradores e que temos de largar esta merda toda e voltar para casa?. Agora que tínhamos a guerra ganha, entregamos o ouro ao bandido e vamos à vida?! Puta que os pariu a todos.
- De acordo disse Nuno, só porque achou que devia dizer qualquer coisa. - O que os portugueses fizeram por este país foi...
- A revolução, a democracia, está tudo muito bem - continuou o tenente, embalado na dissertação, ignorando-o.
Eu também concordo com a democracia, mas não é a democracia dos comunas, que querem oferecer Angola aos cabrões dos russos - disse. E a morteirada continuava numa cadência regular, tum... tum.., tum... - Ou você pensa que isto vai ser para os pretos? O tanas, é que vai. Uma terra a nadar em petróleo, rica em diamantes?! Não - abanou um indicador assertivo. - Nem pensar! Vai ser só troca por troca. Saem uns colonialistas, entram os outros. Somos nós a sair e os russos a entrar. -

Pôs-se de pé, agarrou as calças pela cintura, puxou-as para cima, a compor a farda. - Puta que os pariu - rosnou. Voltou-se para a direita, gritou: - Sargento! Já chega dessa merda!
Os morteiros cessaram e o silêncio impôs-se.”


(são nossas as letras a bold)

Tiago Rebelo, "O Último Ano em Luanda", Editorial Presença, fls. 177-178.



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3 Comments:

Blogger Al Cardoso said...

Como eu entendo esse "Soldado" para Angola fui com dez anos, ai me fiz homem e como diz ele ja com a gerra ganha entregaram Angola aos comunistas.
O que ate hoje me doi nao foi la ter deixado bens materiais e dez anos que foram os melhores da minha vida. E o facto de que tudo quanto construimos, nao ter servido nem para nos nem para os angolanos, com a excepcao do governo (ou devia dizer desgoverno).
Os americanos e os chineses e que vao lucrar com as riquesas de Angola.
Pois nos nem fomos capazes de continuar a comercializar com eles e agora ja e muito tarde!

Um abraco monarquico.

domingo, agosto 15, 2010  
Anonymous Anónimo said...

Sem comentários!
P.Rufino

domingo, agosto 15, 2010  
Blogger C.M. said...

Um grande abraço azul também para si, al cardoso!

A História trágica destes últimos trinta e seis anos não pode ser desmentida, pese embora a cegueira ideológica de muita gente que não quer ver a realidade, a crueza da verdade histórica, dos eventos que se passaram. Ainda há dias um "revolucionário" como José Mário Branco, um dos baladeiros dos anos 70, confessava a um Jornal, creio que o "Público", que as gentes de Angola vivem hoje muito pior, na mais abjecta miséria. Ora, se foi para isto que se "libertaram" os portugueses negros de África...

Expulsaram os portugueses brancos com a ajuda do MFA, que advogava a entrega de Angola à influência da União Soviética através do MPLA. A seguir, os factos históricos deram razão a Marcello Caetano: os negros, neste caso de Angola (mas também em Moçambique e na Guiné)) entregaram-se a uma luta fratricida, mataram brancos e negros, numa chacina que ultrapassou em muitooooo os 13 anos de guerra!
Está tudo documentado em inúmeros livros de investigação histórica rigorosa.

No caso deste livro do Tiago Rebelo, embora com factos romanceados, o pano de fundo revela-nos acontecimentos dramáticos que de facto aconteceram naquela província portuguesa, que nos foi roubada pelo imperialismo soviético, com a ajuda "prestimosa" dos "irmãos" cubanos, chineses e até de alguns países da NATO, invejosos da prosperidade daquela terra.

Um livro que se lê com ansiedade, revolta, angústia e... de um sopro!

terça-feira, agosto 17, 2010  

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