Quando Deus "desaparece" ...
É urgente ler "As Benevolentes", para não esquecermos que, apesar de toda a cultura, o Homem é capaz de todo o Mal...
De facto, o romance é uma "confissão" de um ex-oficial nazi que descreve, sem quaisquer remorsos, as atrocidades, por si cometidas, durante a II Guerra Mundial, e que nos leva a nós, leitores angustiados, a uma reflexão sobre as razões que levam o Homem a praticar o Mal.
O título é uma alusão ao eufemismo que os gregos utilizavam para se referir às Fúrias, divindades que vigiavam o comportamento dos seres humanos para punir os actos pérfidos destes.
O Autor, Jonathan Littell, americano mas com raízes francófonas, afirma, em entrevista ao Público desta Sexta-feira, que "Quando Deus desaparece, coloca-se-nos um dilema. Os valores devem referir-se a algo, devem vir de algum lugar. Num mundo sem Deus, era difícil implantar um sistema ético e moral. As ideologias vieram fazê-lo, substituí-lo, mas também fracassaram, e é por isso que agora não temos nada. E os iPod não vão construí-lo. Nem a compra e venda ou a publicidade. Esses valores em que vivemos, do consumismo, do ganhar dinheiro, não são nada. A nossa sociedade desliza pela memória que lhe resta de ter feito parte dos bons. Vive dos restos".
A meditar... pensando que todos nós não estamos ao abrigo de qualquer totalitarismo, de qualquer acto bárbaro que alguém, com poder, decida praticar contra nós... o que assusta é o facto das crueldades e actos terríveis contra o Outro, serem cometidos por homens e mulheres comuns, que "tentam" desempenhar bem as suas tarefas ordinárias, no interior de uma estrutura viciada e perversa, de poder e obediência cega...
4 Comments:
O mal sempre existirá. Talvez seja um prato demasiado pesado na balança da vida e actualmente a falta de escrupulos e dignidade parece abundar como virtude, ameaçando o justo e valoroso.
Esperemos que o 2008 traga alguma luz.
Desejo-lhe um bom ano, com muita felicidade.
um beijinho
Bom Ano, gasolina, também com muita felicidade - é aquilo que sempre buscamos, não é verdade?
Beijinho
CM
Já tinha essa ideia por ter lido "Os assassinos entre nós" do Simon Wiesenthal". Mas, penso que seria também desse livro uma passagem sobre um rabi que alugava a Tora em troca de comida. Ao narrador alguém dizia para em vez de censurar o rabi, pensar antes em todos aqueles para quem o texto sagrado era mais importante que a comida.
Feliz 2008, com muita paz.
um beijinho
Gábi
Lembro-me desse livro, lido há muito, Redonda...perdi-o algures...mas a perspectiva que aqui me sobressalta é o Mal em geral, o mal que pode ser perpretado por qualquer homem ou mulher, numa obediência cega a uma hierarquia... em qualquer momento histórico, em qualquer latitude...
ms que venha 2008 com a paz possível, pelo menos para todos aqueles homens e mulhers de boa vontade...
Beijinho.
Enviar um comentário
<< Home