Apenas o Senhor pode reconfortar a minha Alma.
O meu amigo, Dr. Coutinho Ribeiro, colocou, no seu “Anónimo”, um artigo com duas frases que me levaram ao texto que segue.
Falou ele do “medo dos acidentes por estradas perigosas” e do “deserto que é o interior, o deserto que se plantou no interior das pessoas”.
Duas afirmações que ele faz com toda a propriedade!
Ainda ontem à noite fui a Cascais, com dois colegas e amigos, velar um pouco a neta de um colega nosso, o decano de todos nós, nós os poucos que restam, que acreditam no Estado, na causa pública, meia dúzia de entusiastas do Direito Administrativo, e que ainda vamos tendo a sombra tutelar do nosso colega, a um ano de se aposentar, homem que já viu muita desgraça à sua frente, e mais esta agora…
Aquela neta foi vítima de um acidente de viação na recta do Dafundo, aqui em Lisboa, a caminho da Marginal. Uma noite na discoteca, com amigos, a saída da mesma às nove horas da manhã, a embriaguez da velocidade de quem ia a conduzir, o despiste, a morte.
Inútil. Todas as mortes são inúteis. Muito mais aos 19 anos.
Para quem acredita, é o encontro com o nosso Deus. Mas vi, hoje, nas exéquias, muitos jovens, desesperados, surdos à bela mensagem que o sacerdote transmitia. Palavras de esperança e um suave apelo à santidade. A uma vida mais coerente, mais responsável digo eu, traduzindo o pensamento daquele. Ao abandono de um modo de vida supérfluo, gerador de morte. Física e espiritual.
Mais triste fiquei ao ver que muitos jovens saíram a meio da homilia, talvez rejeitando aquelas palavras. Rejeitando a única Palavra que nos pode dar a Vida, a Esperança, a única que nos pode fazer repousar em verdes prados…
Esses jovens, com a sua atitude, plantam, no seu coração, o deserto que o meu amigo Coutinho Ribeiro menciona no seu artigo "Deserto (com algumas flores)". Deserto para os outros e para si próprios. Um deserto de desesperança, de descrença. E, contudo, apenas Jesus nos pode conduzir junto das águas tranquilas, e reconfortar a nossa alma…
“O Senhor é meu pastor, nada me falta; em verdes prados me faz repousar; conduz-me junto das águas tranquilas, reconforta a minha alma; e guia-me pelos caminhos da justiça, por amor do seu nome”.
(Sl 22 (23), 1-3).
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