As Raízes da Inquietação
Nesta segunda-feira tive de me deslocar ao Tribunal Administrativo de Viseu. Ora, nesta bela cidade, a Sul da Praça do Rossio (oficialmente a Praça da Republica), ergue-se, por entre o verde da natureza, e no alto de uma imponente escadaria em granito, a Igreja da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, mesmo ao lado do Palácio da Justiça, onde actualmente se situa o Tribunal do Trabalho e o Tribunal Administrativo.
Como nesta praça vemos a obra grandiosa dos anos 40/50, época na qual se construía com sinais de perenidade! Os Paços do Concelho, o edifício do Banco de Portugal, o Tribunal [onde, no seu interior, ainda se pode ler (pese embora o facto de alguém, num acto irreflectido, ter tentado, sem todavia o conseguir totalmente, apagar a seguinte inscrição: “ Construído por reclusos em 1953 – Cavaleiro de Ferreira)]. Bem, ao tempo, a população prisional trabalhava em prol da comunidade e não vegetava numa ociosidade geradora de vícios, como hoje!
E, é claro, para mim ressalta a importância e beleza indizível da referida Igreja dos Terceiros de São Francisco, construção barroca do século XVIII, a qual ostenta o emblema da Ordem Terceira no centro do seu portal.
Entrando-se nela, recuamos para um Tempo onde o Mistério era cultivado, em que o homem se recolhia junto do Transcendente, e aos Seus pés colocava a sua frágil vida, as suas angústias, as suas fragilidades. No tempo em que a relação com Deus era harmoniosa, e a falsa doutrina do Iluminismo não tinha contaminado as almas tíbias! Quando havia paz social, amor a Deus e respeito aos poderes instituídos. Hoje, tais valores encontram-se muito esquecidos da nossa população…chamam-lhe obscurantismo…
Vem isto a propósito, como de início referi, da minha deslocação a Viseu.
Tive ocasião de, mais uma vez, constatar como no interior do País se pode usufruir de uma qualidade de vida que já não existe na Capital.
Pese embora uma política errada que vai levando à desertificação da Nação, fechando serviços do Estado essenciais à população, em nome de um economicismo cego e estúpido, contrariando assim uma saudável política de desenvolvimento e de aproximação da Administração Pública às populações, tal como vinha a ser feita à décadas (no Estado Novo), o certo é que, no interior do País, ainda se pode conciliar uma vida de trabalho com uma aproximação às raízes mais sagradas do homem, aos usos e tradições de épocas remotas.
A verdade é que o homem de hoje, apesar de toda a (fria) tecnologia que supostamente suporta a sua existência, sente bater-lhe à porta do seu coração uma inquietação, ainda que de modo difuso, e vê fugir-lhe esse passado na voragem deste modo de viver sem sentido, que o deixa perplexo perante um mundo que já não compreende, porque alienado e destituído de referências morais, estéticas e religiosas.
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