Dies Domini

Sartre escolheu o absurdo, o nada e eu escolhi o Mistério - Jean Guitton

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Localização: Lisboa, Reino Portugal Padroeira: Nª Srª Conceição, Portugal

Monárquico e Católico. intransigente defensor do papel interventor do Estado na sociedade. Adversário dos anticlericais saudosos da I República, e de "alternativos" defensores de teses “fracturantes”. Considera que é tempo, nesta terra de Santa Maria, de quebrar as amarras do ateísmo do positivismo e do cientismo substitutivo da Religião. Monárquico, pois não aliena a ninguém as suas convicções. Aliás, Portugal construiu a sua extraordinária História à sombra da Monarquia. Admira, sem complexos, a obra de fomento do Estado Novo. Lamenta a perda do Império, tal como ocorreu.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Notas (inoportunas) sobre o "Retiro do Silêncio": uma experiência pessoal.


Real e Realidade; da diversidade à unidade.


É comum entender-se que a realidade corresponde àquilo que "realmente existe". Mas, se houvesse uma "real" correspondência entre aquilo que compreendemos e aquilo que "realmente existe", certamente estaríamos em posse da "verdade".

Mas o caminho em direcção à verdade não é simples. A própria ciência, como ensina Karl Popper, consubstancia-se numa busca da verdade, sem terra à vista. Aquilo que em determinada época é considerado como uma "realidade" pode deixar de o "ser".

A realidade é dinâmica e, para apreender o seu movimento, precisamos compreendê-la historicamente. Mas, aqui chegado, direi que a Realidade é uma só. Bem como a História, que tem um "dono": Deus, o seu Senhor, e Jesus o Seu doce Filho, que se dignou encarnar numa Virgem Puríssima e penetrar assim na História do Homem.

Os deuses míticos da Antiguidade empalideceram e definharam perante a Luz que brilhou e afastou as trevas. Ora, a História da Humanidade não tem, pois, sentido, a não ser que a interpretemos à Luz dos ensinamentos de Deus, vertidos no Antigo Testamento, e da Verdade ensinada e transmitida por Jesus, ele que encarnou a própria Verdade [ "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida"- (João 14,6)].

Mas o homem, descrente, interroga-se: o que é a Verdade?...

Há dois mil anos alguém fez esta interrogação, de modo cínico: Que é a Verdade? Foi Pilatos, no "julgamento" de Jesus.

Desde esse dia que muitos, de um modo especial, se interrogam acerca da Verdade.

Para aqueles que acreditam (repito) Jesus disse: "Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" . E seguem-n'O!

Neste contexto, a Verdade baseia-se na minha Fé a qual é, para mim próprio, um mistério, mas certamente uma Graça de Deus que vou cultivando no meu dia-a-dia.

À semelhança do afirmado por João Paulo II, só Deus conhece a história da minha vocação. Na verdade, não sei como ela nasceu. Mas desabrochou certamente um dia, quando a minha Alma muito devagarinho deixou-se comover com a doce Figura de Jesus. E descobri, de mansinho, toda a poesia do gesto de Nossa Senhora, Mulher Mãe e Rainha do Céu e da Terra! Compreendi, de súbito, toda a nobreza da Sua Vida, Vida de Amor, de Gratidão, de Dádiva!

A Poesia que dimana das reflexões dos nossos (actuais) Profetas, ajuda-nos a reflectir e constitui um bálsamo, para nós que andamos perdidos neste turbilhão a que chamamos de "vida"…

E o Mundo que é tão bonito! Mais maravilhoso seria se todas as pessoas se amassem fraternalmente, e não existisse o mal a perturbar o nosso quotidiano…

Precisamos de inventar outra vida, como disse algures o nosso escritor António Alçada Baptista!

Acompanhando a poesia do Evangelho, temos de evitar que a noite de alguns dias seja longa…


Lembro aqui "A Fé e a Razão" , de João Paulo II, em que este afirma, logo no início desta sua Carta Encíclica, que estas [a Fé a Razão] constituem "como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio".

Lindo! Mas, reconheço que a Fé é algo que ou se tem ou…não! Mas algures, na nossa caminhada, ela pode surgir: ela não pede licença…

A Fé é, essencialmente, Amor! Comoção! Paixão!


Os homens de boa vontade unem-se para que possam, em conjunto, e numa união mística, compreender melhor os mistérios de Deus, aquilo que Ele lhes propõe, para que sejam capazes, enquanto pessoas, conduzir ao bom porto, por entre o mar porventura alteroso, a sua própria história pessoal.

E assim acontecem encontros como o de Monte Real, onde as Irmãs Clarissas nos receberam, num misto de espanto e maravilha. Com efeito, ali estava um grupo de homens e mulheres dispostos a "amortalharem-se" num Convento por alguns dias, a fim de se sentirem mais perto de Deus e fazerem uma pequena pausa nas suas vidas, propiciadora de um tempo de reflexão que os aproximasse mais do Sumo Bem – aliás, Deus, Sumo Bem, constituiu a experiência fundamental de São Francisco…e é também modelo para a nossa própria experiência. É claro que não podemos aspirar a uma tal santidade…bem, o autor destas linhas fala por si: ele nem é digno de beijar os pés a um tal Santo…

Mas é um facto marcante, na vida, quando alguém, de súbito, no turbilhão do dia-a-dia, descobre que ama Jesus sem ter para tal uma explicação racional.

Tal consistirá, como disse, numa dádiva de Deus o qual, na Sua excessiva Misericórdia, nos ergue da lama em que nos encontrávamos e nos transporta para a Luz.

No Retiro, intitulado " Escuta o Silêncio", estavam ali três homens, Sacerdotes Franciscanos, tocados pela Graça de Deus.

Unidos na Fé, possuem, porém, diversos modos de encarar a mesma Realidade.

Um, diria que é o Filósofo por excelência, místico mas ao mesmo tempo racional, que analisa com detalhe a mente humana e a disseca nas suas idiossincrasias e na permanente dialéctica em que o homem se vê envolvido (as conversas foram breves mas estas características ressaltam com facilidade…).

Um outro, diria que é mestre na compreensão do Homem na sua condicionante social, nas suas limitações e fraquezas, dando pistas e soluções dentro da Doutrina de Cristo, para que nos compreendamos a nós próprios, nas nossas limitações e, não obstante, possamos viver de acordo com aquela.

O outro é o Apóstolo do Amor.

Quando o vi, apaixonei-me. Apaixonei-me pelo seu semblante austero (a lembrar João Paulo II), pelos seus olhos muito vivos, pela sua voz grave, diria até dramática, quando fala do Amor. Do Amor ao irmão e do Amor a Jesus.

Com efeito, a sua voz tem o poder, diria que mágico, de revelar a poesia, porventura aqui e acolá escondida, dos textos bíblicos.

Aliás, o seu livro "São Francisco fé e vida" (já estão a ver quem é…) é todo ele um louvor à doce figura de Jesus, constituindo, por outro lado, uma longa reflexão antropológica, sociológica, política, acerca do Homem e do seu futuro, alienado que está pela "força violenta do trabalho, do negócio e da massificação".

Que clarividência!

Tocou-me a sua imensa paixão por Jesus, pois que eu próprio sou um apaixonado por Ele. Nada quero em troca por este meu puro amor, desinteressado que é (pese embora os meus pedidos de auxílio a Ele e aos Seus Santos, para o meu dia-a-dia) a não ser o Seu próprio Amor. Aliás, uma das minhas orações habituais consiste em que Ele me deixe, um dia quando partir deste mundo, no excesso da Sua Misericórdia, reclinar a minha cabeça, cansada de tantos trabalhos e agruras, no Seu peito, junto do Seu Sacratíssimo Coração.

Provavelmente, e à semelhança da cena do Monte Tabor, quando Pedro, maravilhado, disse a Jesus que, se Ele quisesse, faria três tendas, uma para Ele, outra para Moisés e outra para Elias, também não sei o que estou a pedir…Mas confio no Seu Amor e na Sua Bondade.

E a estas Verdades eternas nos conduzem tais Pastores.

Que Jesus lhes dê animo força e longa vida para que possam continuar a conduzir este humilde rebanho para o redil do Senhor!

Com Amor,

Cabral-Mendes, ofs.
Nota: o Autor do livro citado é o Frei David Azevedo, ofm. Os outros "Apóstolos" referidos são os Padres Joaquim Cerqueira, ofm, e Luis de Oliveira, também ofm (ordem dos frades menores).