Por causa da História e das nossas histórias pessoais...
"Neste retrato
estás a olhar para diante, para sempre, para
muito além,
sabe-se lá por que saudade, por que mágoa,
mas além,
onde talvez houvesse um cofre aberto para os
sonhos que devastei,
pérolas queimadas,
pérolas negras do medo e da paixão,
metais preciosos roubados às forjas de Deus,
tudo o que neste retrato desenha,
com incandescente ferro e pincéis,
ardor, fúria, tenacidade,
mas nunca a renúncia, nunca as marcas do
luto e da febre sobre a lua amarela.
Neste retrato eras tu - e não poderia ser eu? -
com o tempo por cima, a passar impiedosamente,
o tempo do declínio, o tempo do pó,
tudo o que hoje se comprime nesta moldura de
prata,
ao centro da mesa, tristemente."
José Agostinho Baptista, in "Agora e na Hora da Nossa Morte", Assírio e Alvim, ed. 1998.
José Agostinho Baptista, para mim o poeta mais "verdadeiro" e importante do meu século.
Aqui, e a propósito da foto abaixo publicada, e de todas as fotos semelhantes, os sonhos que não se realizam, e a tristeza do fim... que desperdício é morrer!...
Nota: a bela e dramática fotografia, intitulada " I'm free to do what I want", é da autoria de Carla Salgueiro. Do "site" http://olhares.aeiou.pt/" , com a devida vénia.
Etiquetas: Amor e Angústias
7 Comments:
:-(
Também gosto muito de J. Agostinho Baptista..e este é um belissimo poema...
uma boa semana
Diz-me muito este poeta, e não o sinto falso, como outros, que fingem sentimentos.
Uma boa semana, Júlia. E obrigado pela visita.
É capaz de ter razão! Nunca tinha pensado nisso...
vai ver que foi por isso que o poema me incomodou tanto.
A Poesia pode dizer-nos tanto...
sim! Sem ela eu não resistiria :-)
onde talvez houvesse um cofre aberto para os
sonhos que devastei,
ai sonhos, Cleo... são tantos...
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