De súbito, esta inquietação...
De súbito, o calor invade a cidade. A inquietação sobe na memória que repousa em tempos idos, longos verões à beira de pinhais e da frescura do rio Tejo.
Um desejo súbito de eternidade sufoca-nos. Poder reviver ad aeternum estas estações que se sucedem e nos dão a ilusão de estarmos mais vivos.
As estações do ano: que beleza da criação!
Lembro-me de um texto de Carlos de Oliveira. Vou à estante buscar os livros dele, já todos amarelecidos pelo tempo: edições do início dos anos 80, estes tão cruéis que me refugiava desesperadamente em alguns autores que poderiam oferecer algum bálsamo e “compreensão”; como aquele. Que esta história de ir buscar consolo a um neo-realista não sei se tem alguma lógica mas enfim…
Em mãos os “Pequenos Burgueses”, edição da Sá da Costa, 1981:
"A noite fechou-se, mas o luar tarda ainda. Mal a última luz de Corgos se perde ao longe, começa a cavalgar com dificuldade na escuridão. Os pinhais estalam: calor empolando a resina todo o dia por baixo das carrascas, que voltam agora ao seu lugar mas protestam.
Julho. O ar morno do estio, o sangue mais veloz, o esplendor dentro e fora das criaturas. Julho, agosto, setembro e talvez uma parte de outubro.(…). A primavera, o verão. Outra vez julho. O retorno contínuo coincide com a terra e as estações, mas não coincide connosco. A terra tem o tempo que quer para rodar em volta do sol e de si mesma, regressar, repetir-se. Nós, não. Andamos apenas para a frente. Vivemos uma vez, uma única vez, as nossas quatro estações e acabou-se. “
Valha-me a minha Fé…
Nota: na foto - Seven Mile Beach, Sorell, Tasmania. Tão longe...
Etiquetas: Todos os sonhos são possíveis no verão...
5 Comments:
Um calor muito intenso o de hoje, e sem aviso prévio...
Já não há respeito, não se avisam as almas...
Ao falar-nos do calor, meu amigo, e vindas as suas palavras escritas de Lisboa, fazem-me lembrar as noites quentes na rua onde então vivia, perto do Marquês de Pombal, e onde ainda se podia estar e jogar nos passeios e estacionamento central, que por esses tempos ainda tinha poucos carros.
E um óptimo gelado da Rajá, que tinham tanto sabor...
Naquele tempo eram só familias que ali viviam, agora são só escritórios e pouco mais...
Deixei a memória partir e o melhor é ficar por aqui, porque se não, não me calo...
Abraço amigo
eu assisti à Missa de domingo (festa de S. Geraldo)debaixo de Sol, prefiro-o à chuva, logo, não me queixo. que ele venha!
tão bonito, o andor cheio de cravos!
"O retorno contínuo coincide com a terra e as estações, mas não coincide connosco. A terra tem o tempo que quer para rodar em volta do sol e de si mesma, regressar, repetir-se. Nós, não. Andamos apenas para a frente. Vivemos uma vez, uma única vez, as nossas quatro estações e acabou-se. “
Uma verdade Brutal
Só disto é que vou tendo.... .angústia.
:-))
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